30.4.11

pó sujo

a carne que deixei apodreceu; ganhou as cores dos meus sonhos. quando a encontrei, pela sua fragância tóxica, lembrei-me que a tinha esquecido no canto da varanda deixando-a à espera do bicho negro. só assim me lembrei que também naquela varanda varrida pela violência primitiva me esqueci dos meus sonhos.

Lx, 30-04-2011

egoísmo fechado em ( )

perdi a força
que suportava aquele silêncio
mostruoso
sólido.
destruiu todas as barreiras
que ergui para mim.
mostrando ao mundo
o batimento cardíaco
que escondi
no baú carcomido
aqui dentro.

era o que de mais secreto
procurei amar só.

Lx, 30-04-2011

rádio a preto e branco

de ser tão negra
aprendi a cor.

com o mais flácido músculo
descobri o pasmo da dança.

para a mais perturbadora violência
recordei o apagar do som.

assim só assim
afogada na terra estalada
reencontrei a mudez que me faltava.


Lx, 30-04-2011

25.4.11

pérolas latinas

"eu sou ateia graças a Deus."

e não vamos mencionar a entidade superior que diz(ia) isto.

23.4.11

nhanhadas

começo a desconfiar que ficar de férias nesta escola me faz um pouco de mal.
o meu caderno ganhou pó.

3.4.11

bifes em sangue

escrever coisas bonitas todos sabemos cuspir.
coisas cruas nem todos querem sentir.



conspiração de perna cruzada numa cama apinhada(de coisas), Lx, 03-04-2011

bons-dias

no fundo da chávena

segue os buracos na calçada