27.3.11

delírios I

mia sentada na cama olha de repente para o caos instalado à sua frente. mãe repousa na ombreira da porta.
mãe: mia?
mia: sim? (sacode a cabeça e olha para A Mestra)
A Mestra ri.
mia fica confusa: 'que foi?
A Mestra: estavas extremamente concentrada a olhar para o nada.

20.3.11

relógio biológico

Por quantas vezes fiquei a ver a chuva,
sentindo o barulho na pele.
Quantas vezes tropecei e cai
nessas ruas cheias de troça.
E quantas vezes,
ó quantas vezes;
chorei eu no escuro
pelo meu triste verso.


Lx, fim da cama nas altas horas da manhã ainda noite, 20-03-2011

17.3.11

abandono

guardei em mim
demasiadas pessoas,
pouca essência.
deixei a distinção da realidade.
e agora,
tão tristemente,
ouço o assobio inerte
da minha alma a vaguear
no corrimão mudo
dessas ruas ácidas.


Lx, mesa, 17-03-2011

sussurro

A cegueira,
é o mais puro embalo
que o cansado pode ter.


Lx, mesa, 17-03-2011

pena caída

deixei de procurar,
limitei-me às questões.
só o assobio frio
do corrimão
não ouso esquecer.


Lx, mesa, 17-03-2011

carne seca

nunca procurei redenção, nunca procurei voltar atrás.
a dor e o tempo ajudaram-me a esquecer o que é impensável.
tornei-me uma estranha nas minhas próprias vísceras.


Lx, mesa, 17-03-2011

16.3.11

vazio

a solidão, ao sorrir-me aquece-me, afastando a amargura das palavras humanamente cínicas. a melancolia dança e ridiculariza todos os meus sonhos passados e quebrados porém ilude-me no epicentro da minha loucura, bombeia a verdade crua e dura nas minhas veias envenenadas. o esquecimento foge de mim procurando deixar-me na miséria da palavra seca e isenta de razão. só me resta a emoção e nostalgia, mas não choro; agradeço por ficar lúcida na violência do mundo e no meio da crueldade que impus a mim mesma.
mesmo que seja segredo.



Lx, esplanada-não-sei-bem na Guerra Junqueiro, 16-02-2011

sorriso da mais profunda tristeza

"Ó Tempo
Sê gentil
Ajuda este ser cansado
a esquecer o que é triste lembrar
Solta a minha solidão
Sossega o meu espírito
Enquanto devoras a minha carne."


poema de "alguém sensível" a Marilyn Monroe
-ipsilon, 11 março de 2011, pág. 10

o choro é o medo da realidade

a tristeza não é algo de que devamos fugir. é toda a sua lucidez que nos impede de viver os sonhos. os sonhos são falsos. nunca o Homem está bem, ou feliz; a angústia pertence-lhe, divide a alma com o desejo e não deixa que o Homem se perca.
- Angústia, como te podia viver para sempre. Em ti quero ver o mundo velho e degradado. Não quero o muro limpo e a pessoa suja, quero a liberdade de ser sempre triste.



Lx, sala 403 não ouvindo as pessoas, 16-02-2011

14.3.11

pessoa(s) que inspira(m)

"Mas o contraste não me esmaga - liberta-me; e a ironia que há nela é sangue meu."

Livro do Desassossego, Fernando Pessoa, Assírio e Alvim, página 43



e é assim do nada, que me apanham desprevenida; e depois fico com insónias de horas; e depois fui para a aula de Língua Portuguesa com duas horas de sono em cima e indicações incorrectas. bandidos.

13.3.11

rimbombar da violência do som

para mim é magia. a rapidez, o desenlace sonoro dos tendões, a concentração de cada um. é dos sons mais arrebatadores que conheço, é de uma violência brutal que remete meu corpo e minhas memórias para o desentendimento mais profundo. o martelar consciente esmaga as emoções  e arrepia cada vértebra, cada cabelo. tem o poder de me arranhar as ideias e quando acaba sinto saudade desse piano.


ouvindo yann tiersen no chão do quarto, Lx, 13-03-2011

sou surda com os pés

plack plack
cima, baixo
bate, ressoa
o dedo sobe, o dedo desce
uns esperam, outros sofrem
firme e frio
surdo e concentrado
desfocado e turvo
é o plack plack dos dedos do pé.


sítio triste, Lx, 17-02-2011

10.3.11

tisanas visuais II


esse azul negro que te envolve em toda a tua brancura e te queima por dentro.


gota a gota, erro a erro, ano a ano, és sujo e degradado.
ficas sentado na escada à espera que alguém se lembre de ti.

tisanas visuais I

bem, se não tenho tempo ou paciência para escrever por vontade própria, publico aqui alguns textos que escrevo para projecto. melhor que nada?

1. decadência interrompida
o meu conceito envolve-se com o lado mais esquecido do Homem.
o desassossego, essa procura pela verdade pessoal expressa-se apartir do estado mais sujo, mais triste e mais amargo.
a isto, queremos apelidar de memória quando simplesmente faz parte do eu, quando está alojado na alma, quando ainda grita dentro do coração.
e aí existe saudade do que antes eramos.

bons-dias

no fundo da chávena

segue os buracos na calçada