30.7.11

visão viciada IX


Nem mesmo nesta noite roxa de laranjas te amei.

29.7.11

papel sagrado

a folha existe branca, vazia para nunca ser ocupada. por ser branca tem potência, tem autoridade. e hoje corrumpi essa sua virgindade feroz como fiz tantas vezes, ignorando esse seu direito de permanecer no seu grande silêncio.

Lx, 24-07-2011 a meio do curso onde as folhas são respeitadas

visão viciada VIII


Na ausência do dito já pensado, a espontaneidade faleceu dura e ressequida. Pouco antes da palavra ser esquecida para sempre, a antiga sensação do agora soltou-se.

28.7.11

visão viciada VII

Liberdade crua e tão alegremente lúcida. Agarra a noite sem tom nem cheiro. Engole cada palavra tua mirada e encarcerada antes de proferida. Apaga cada imagem que borraste na tua visão. Acorda e não te percas. Luta até não existires.

27.7.11

visão viciada VI

Nego em ti tudo aquilo que os teus olhos reflectem, não me querem, não me são. Olhando para a tua casca não sei compreender, se és pele e osso ou mera carne fantasma, os meus olhos não veêm a realidade como antes viram. Nunca me souberam ensinar a repelir a dor da ausência de ser. Sem medos nada pode irrealmente ser. Não posso mais com o ecoar desgastado do teu silêncio que troça de cada sílaba minha. A ti desejo, o enrolar sintáctico da tua lingual ignoro.

26.7.11

visão viciada V

No esplendor da memória o espaço que carrega o teu pavor é por ti invadido, tão despido do mundo e tão cheio do teu.

25.7.11

visão viciada IV

O conceito de espaço torna-se comum, mantendo a sua pureza original que engole com o passar do micro-segundo, os versos dos Homens que ousaram sonhar.

24.7.11

visão viciada III


Podendo caminhar porquê parar, todo o objecto urbano trespassa a fragilidade dos corpos sensivelmente humanos e aquíferos.

23.7.11

visão viciada II


O quão difícil é resistir à mais vil das tentações: o amar. Esse pecado tão pequeno e tão insolente.

22.7.11

visão viciada I


Seres perdidos. Seguir a linha ténue entre o que é determinado e o que é espontâneo. Inconscientes absortos não saberiam balbuciar de onde fugiam com tempo.

luz, ela.

acho que ela é sempre igual a si mesma. não cresce sem se quebrar. através da janela deste sotão semi-habitado, sei que ela apenas trauteia eternamente por ser criança. a Proximidade procura difamá-la. chama-lhe nomes. o pior é anoitecer. ela será sempre inocente. mamã Lua acalma-a antes da sesta, pai Sol está sempre longe. ela faz sempre companhia aos nossos olhos, brincando com as suas cores, porque ela já as aprendeu todas e troca-as conforme a história que lhe conto na nossa leitura matinal.


Lx, em pausa suspensa do trabalho, com janela por cima da cabeça na rua da madalena.

dissecação

seres perdidos. acho que posso vincular-nos a esta definição. criamos tanto para destruir parte de nós sem sequer dar conta. amamos para podermos odiar. pensamos porque a razão não nos é feliz e a emoção nos é familiar. andamos com ou sem pés para evitarmos uma estagnação psicológica. ocupamo-nos para nos distrair da nossa estúpida existência. somos sem às vezes querermos. somos insatisfeitos por condição e por inconsciência.


Lx, 21-07-2011, a armar-me em tosta ao sol enquanto espero que me venham encontrar

20.7.11

relâmpago sob alicerces

(só) hoje poderia passar tempo prolongado, em inocência modesta, sob paredes fragilizadas pelo sistema de felicidade viciado, entre as quais o silêncio fosse mais do que uma questão de dois fios de papel. Aí teria toda a luz vulgar para lascar madeira e absorver as linhas por escrever, que confesso terem sido o meu primeiro amor quando descobri, em criança, que ainda não sabia ler.


agora, após conversa de meia-hora com sr. carlos do subsolo e sr. gabriel do vício do papel em branco.

17.7.11

mãe lisboa

mesmo com o vento rebentado do ventre do movimento recíproco entre homens-objecto, nem um prédio evoluiu. mero silêncio na penumbra do repouso do tempo escuro suspenso por canas de reflexos.
a tentação de acordar a tinta descascada das paredes com pequenos sussurros de poemas concebidos pela alma cansada dos autores perdidos nas ruas da própria cabeça.

imagem-fuga

a poesia é um excerto íntimo do que tínhamos até depois esquecido.

ponto morto

a cegueira seria a única revolucionária nestes tempos em que a evolução se surgiu, tão caótica, meramente primitiva.

Lx, 16-07-2011


os "espasmos" voltaram finalmente.

1.7.11

visão viciada

A luz e a velocidade dançavam à tua volta pelas ruas adentro. As pessoas passam, poucas, absortas na linha ténue que seguiam até seus descansos, provavelmente nem saberiam balbuciar de onde regressavam. Seres perdidos. Mas tu não, tu sabias cada passo que coordenavas e cada buraco na calçada que evitavas. A cor de cada carro que te razava. Embora a tua visão fosse turva, nublada e moribunda, embora tudo o que visses fosse disforme, desmanchado num complexo e familiar puzzle, o teu andar crescia firme e solto.
Rapariga do cabelo fino de óleo, como pairavas pelas ruas duma Lisboa que desconhecias ainda mais do que ao teu interior. Teus pés descalços deixaram de querer distender, deixaram-se fascinar pela maçã pequena e suja que esperava alguém. Ali mesmo no berço duma pedra que já ali dormira para sempre. O quão difícil é resistir à mais vil das tentações: o amar. Esse pecado tão pequeno e tão insolente.
-Podendo caminhar porquê parar, todo o objecto urbano trespassa a fragilidade do corpo sensivelmente humano e aquífero.
As ruas continuam subindo nuas e cruas entre si, mantendo a sua pureza original que engole, com o passar do micro-segundo, os versos dos homens que ousaram sonhar.
No esplendor da magnificência a árvore que carrega o pavor é por ti trepada, tão despida do mundo e tão cheia do teu.
-Nego em ti tudo aquilo que os teus olho reflectem, não me querem, não me são. Olhando para a tua casca não sei compreender. Se és pele e osso ou mera carne fantasma, os meus não veêm a realidade como antes viram. Nunca me souberam ensinar a repelir a dor da ausência de ser.
Sem soprares sem eu assim desejar, sem medos nada pode irrealmente ser.
Não posso mais com o ecoar desgastado do teu silêncio que troça de cada sílaba minha. A ti desejo, o enrolar sintáctico da tua língua ignoro.
Com a mesma violência com que te atiraste para a terra estalada sob a árvore onde sonharas todas as madrugadas o teu mundo ruiu.
Liberdade crua e tão alegremente lúcida. Chora devagarinho e contida que não te é permitido mais.
Deita-te na relva húmida da noite sem tom ou cheiro.
Sorri para ti, engole cada palavra tua mirada e encarcerada antes de proferida. Fecha os olhos e apaga cada imagem que borraste na tua visão.
Acorda e não te percas. Luta até não existires.
-Não existes em mim, não podes ser parte de mim quando eu não sou bem tu, simplesmente não podes. Cada passo que dei foi sem memória tua. Continuo para novamente ser, respiro para voltar. Não preciso de outro quadro que reflicta o que eu repeti da sua repetição contínua baça.
Na ausência do dito já pensado, a espontaneidade faleceu dura e ressequida. Pouco antes da palavra ser esquecida para sempre a antiga sensação do agora soltou-se.
-Nem mesmo nesta noite limpa de laranjas te amei.


01-07-2011, madrugada, Lx, argumento para nova curta

bons-dias

no fundo da chávena

segue os buracos na calçada