29.5.10

a espera

 (se tivesse legenda seria demasiado privado para se perceber)

   olhou muito vagamente para o céu meio limpo para lá do vidro sujo.
   pensou no que estaria a fazer. não que se preocupasse, confiava nele.
   apenas aquele silêncio, aquela ausência de palavras deixava-a inquieta. era como o peixinho vermelho ir vezes sem conta contra o vidro. quer ir mais além, mas a barreira do físico-cientificamente-possível não deixa passar o corpo. no entanto a alma já voa lá longe.
   o problema mesmo é não se ter a certeza, porque a alma não tem olhos nem cérebro para ver. é guiada pelo coração, e o coração leva a uma ramagem infinita de probabilidades.
   são essas probabilidades que assustam, que nos fazem sorrir ou estremecer. não gostava mas não tinha mais nada que pudesse fazer.
   aí, já era o vidro do humanamente-possível.

23.5.10

um dia escrevo-te um poema de amor. hoje não é o dia.


Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.

Jorge Sena

16.5.10

pessoal e transmissível

COMPROMETO-ME A...
acreditar sem pôr questões ou dúvidas, a pensar duas vezes antes de fazer algo. pequenas ou grandes, todas as decisões fazem-nos tomar um novo rumo. que esse rumo seja sempre melhor, para o bem. comprometo-me a amar sem ligar a opiniões alheias, a ultrapassar os obstáculos e a sarar as feridas mais profundas, ainda que deixem cicatriz.
comprometo-me a ser fiel às minhas crenças superando os muros que se erguem e compensar, remendar os corações magoados por erros por mim causados.


14.5.10

olha para cima


o céu está cinzento.
e eu não gosto.
as pessoas estão cinzentas.
e eu também não gosto.
as cores de lisboa estão cinzentas.
e eu não gosto mesmo.
o gato está cansado.
e eu detesto.

vai cinzento, vai-te embora que já não gosto mais de ti!

6.5.10

rossiti aqui

  Cuspimos os pedaços dos meus rabiscos pela janela bem aberta.
  E ela fica a olhar com os seus olhos-de-queijinho-da-vaca-que-ri.
  Vão aos pares a voar para mais longe sendo seguidos pelos seus olhinhos curiosos e de criança pequenina.
  Depois abana a sua caudinha partida interrogando-se com os nossos risos.



és uma coisinha peluda e fofinha.


1.5.10

manga com sal até deverá ser bom

descobri a camisola salgada!


'your kiss so sweet, your sweat so sour'


e vou gritar até não poder berrar mais.


post scriptum: encontrei a camisola que é a minha cara-metade
e ainda conheci um colar bem atraente,
já para não falar no rapazinho.

bons-dias

no fundo da chávena

segue os buracos na calçada