24.5.11

mancha humana

pelas ruas o gato corre. tem a cor das ruas. a cor das vozes e do lixo. é um gato coxo. mas não posso dar certezas porque nunca ninguém o viu. cada pessoa de carne e sangue nunca se lembrou de ver para lá do olho.

agora mesmo numa folha qualquer num quarto qualquer duma Lisboa qualquer

22.5.11

pedra com carne

não quero ser artista plástica. toda a elasticidade das almas perdeu-se. endureceu. limitou muros pessoais. não existe privacidade mas  ninguém partilha verdadeiramente o seu íntimo. não quero ser de lata pois apenas me sujaria mais, me amolgaria e cortaria as histórias do mundo.
quero ser uma artista de vidro. quero guardar os intestinos e o vómito do cruel. quero poder escrever nos olhos dos irreais e distorcer as melodias do peixe.
quero conseguir sentir o violino sem o conhecer.


Lisboa, entre cola e papel, 22-05-2011

processo mecanizado

rasgo a placenta dura e fria. engulo raízes tortas esperando ver, mesmo que seja cega de nascença.
não busco qualquer tipo de protecção. simplesmente não quero ter algo que me cubra as costas quando mas tentam desfazer. quero poder sentir tudo por mim longe de mim. porque a realidade deixou de ser uma máscara transparente e sim uma parede outra onde escrevi ontem o meu fado. mesmo que nunca tenha chegado a nascer.


Lisboa entre linhas e agulhas pela madrugada fora, 22-05-2011

20.5.11

matéria-prima


sou feita de máscaras de cor ou não cor.
encontro-me a meio do que sou,
não chegando a ser mas também não chegando a não ser.

sim, é isto que faço em projecto.

10.5.11

ilimitou-se

o choque. já não sei se quero a carne seca ou a carne viva. posso aproximar-me ou retomar uma veia antiga crescendo e moldando novas formas dentro de tudo. mas já não sei, porque é a palavra, é o som e o movimento do tendão que me puxam até ao fundo. e do fundo do poço consigo ver tanto. mas tanto.

foi agora, pronto.

5.5.11

ai no i

e o Amor passou a ser tabu para mim.

Lx, entre livros e papel no caos arrumado pela Linda, 05-05-2011

4.5.11

peixe cru na tábua molhada

Verdade,
essa doença a que chamam loucura.

data desconhecida
repescado do placard da cozinha. os meus pais andam a apanhar os rascunhos que deixo pela casa.

2.5.11

é só um conselho.

inspira com toda a fé que encontrares.
lunática e descrente.
agora vê lá se não te engasgas.

Lx, 02-05-2011

bons-dias

no fundo da chávena

segue os buracos na calçada