16.2.11

mais um roubo da aula de Língua Portuguesa

CONSELHO

Sê paciente, espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar do vento que a mereça.


Eugénio de Andrade, Poesia (2005)

12.2.11

retratos de ironia

disseram-me que escrevo bem mas que sou uma torturada depressiva angustiada.
eu cá prefiro só dizer que o meu escritor predilecto é o kafka.

choro compassado

é a fragilidade atropelada, cuspida e descartada.
o olho vazio do pedinte.
o choro da criança cigana.
o desconsolo do jovem que fugiu.
o gato esventrado.
o poio do cão.
a doença da ratazana.
a madrugada do bairro.
o grito ignorado.
o sangue derramado.
é a noite urbana, escondida pelas pessoas que correm pelo tempo que já lhes declarou a sentença.

variações aquosas

minha cabeça é uma dispersão de ruas, esgotos e muros. é o pára e arranca, sem rumo nem sentido. é o gato coxo e o pombo sem asa. tropeço na análise concisa e mergulho na anarquia vocabular. nem as margens respeito.
e agora? júlio de matos?



aula de Língua Portuguesa com múrmurios de Rafael e de ratinhos mimosos tão confusos quanto eu relativamente à Paráfrase Interpretativa. Lx, 09-02-2011

2.2.11

mergulhos subterrâneos

o metro afunda-se nas entranhas de sua mãe. um som guinchante e amargurado ressoa pelos túneis. coisa muito triste, escorrida como o choro do cão vadio. é cru, é duro. perante o espectáculo silencioso afasto os ruídos e o meu Ó. perco os olhos na peça nauseabunda, arrastada pelo tempo.
outro bicho rebenta com esta pauta improvisada.
então o acordeão do cigano fugiu.


plataforma do metro da alameda, Lx. 01-02-2011

bons-dias

no fundo da chávena

segue os buracos na calçada