25.12.11

poema de natal?

a morte do artista é homicídio indiscriminado. facada na coluna como quem vê objecção à luz.
artista mata artista com os dedos na ponta da alma tripartida.



Lx, 25-12-2011

20.12.11

impuro medo

respirar a verdade como se já não existissem sonhos. na tua pele disléxica leio o que se esconde com os olhos, o que as palavras distorcem. o discurso recto não faz sentido a uma alma solta. procuro em cada análise respeitar o que o corpo converge. nada sei até sentir o que não é permitido. até o destino me soa flácido.


Lx, 20-11-2011
pela madrugadas carregadas de intoxicantes numa varanda solitária só minha companheira

4.12.11

amor cão

Pouco ou nada
tudo em vão.
Sabão ácido
dislexia exploração
Disfunção pupilar
unha dilatação.
Criação imunda
partícula implosão.
Caco sujo
partiu sem morrer
numa chávena cosida.


Lx, 02-11-2011

30.11.11

rasgo sensorial

esconder o vácuo pessoal
vazios os jornais estripados
tendência neuronal
para o esquecimento auditivo.

quebra, rasga
osso corruído
grama impura
dum eixo deslocado.


Lx, 30-11-2011
(terei realmente oltado?)

27.11.11

lugar comum

somos matéria sem nexo.
conscientes do nada, vivemos sem possuir poesia prosaica nem calão.
denominamo-nos felizes perdidos.

Lx, 27-11-2011

22.11.11

sob o alçado do limbo

sou malha rota duma toalha nova.
sou sem ser uma célula incolor.
sou indefinição numa escala de si bemol.
sou aperto no vácuo como quem tem fome.
sou cega e respiro porque compreendo.

Lx, 21-11-2011

29.10.11

sonhos infelizes

é na noite
que confio o que sou.
totalmente
e tão quente
respiro o som
que não fui.
estou num tempo
que não existe
para eu poder
cantar versos crus.
sendo nudez
no meio do obsceno urbano.


24-10-2011

poema para boteille

o fogo que não és expeles. ensimesmas-te numa vaga violenta que transpareces pelo vidro que embacias. escondendo toda e qualquer tristeza que possas conjugar é na cinza que te lavas. procuras a glória no pouco espírito que os outros nada elevam numa brisa intemporal.

Lx, 24-10-2011

19.10.11

estudo ímpar

cor do vidro:
espectro físico solúvel.

homem sonha
transe colapsa.

copo que caiu
sem existir
sem ser
pensou que era de papel.


Lx, 18-10-2011

julgamento mudo

inconsistência tensa
nó roto
cuspo na laringe
tendão vira papel
reflexão procriada
mente surda
língua química
amargura visceral
destruição opaca
amansada numa saliva
que o silêncio obrigou.


Lx, 15-10-2011

reflexo profano

renúncio a memória.
procuro perder
tempo;
pensamento.
assisto ao céu
sentindo a compreensão
que nada
me pode dar
senão
a vibração do imaterial.


Lx, 13-10-2011

mente o corpo

o corpo estala
em reacção paralela
à palavra corrupta.

o intelecto quebrado
domina o gesto branco
apaixonado pelo som
que o silêncio aquece.

Lx, 13-10-2011

15.10.11

a intensidade é nudez poluída.


Lx, 12-10-2011

pecado vivo

somos carne.
perdemos pele.
somamos ilusões.
acreditamos na mentira.
apedrejamos a palavra.
suicidamos a essência.
cuidamos,
com ternura,
das unhas-sujas de memórias.


Lx, 12-10-2011

o dom do nada

se imaginei criaturas
que sentem,
perdi o interesse.
o incompreensível,
fascinou-me nu.
a dúvida não nasce
nem é gesto morto.
a emoção arrebata
para nunca ser visível.
narrações de toda
uma alma
suja
polida
abraçam-me
e vivo na esperança
que sejam mais
do que matéria verbal.


Lx, 12-10-2011

teatro-sombra

sou louca
na minha mente sensível.
vivo imagens
que café seco
se assemelham
a quem vive
no mundo cru
que imaginei
ser real.


Lx, 12-10-2011

espelho-mão

a sensibilidade que sou
tornou-me intocável.
não sinto;
vejo pelo que existe.


Lx, 12-10-2011

11.10.11

reciclar histórias

Depois do tempo
veio tudo.
O que tu quiseste
e o que não identifiquei.
Fosse gravilha limpa
ou cachimbo novo,
desisti de aceitar
tudo o que propuseste,
só para eu admirar
o que a pele conta.



Lx, 10-11-2011

palidez

Se desconfiasse
qual a cor correcta
dos olhos dum destes,
teria a certeza
do que já não sei.

Lx, 10-11-2011

Tambor Cardíaco

Grão de terra,
palpita-me tão inocente
na minha estranha mão.
Duvido,
do que pré-estabeleci,
partindo de lógicas matemáticas
cujo cálculo
é tão falível
quanto o sonho do cego.

Lx, 10-11-2011

holograma

Se ser é tão errado
porque questionamos?
Sendo o respirar
o pecado mortal.
Não vendo a hora
de perder a razão
por simplesmente sentir
o que é tão proibido.

Lx, 10-11-2011
Já me lembrei
de dizer talvez três vezes.
Outras cinco
calei-me.

Lx, 10-11-2011

5.10.11

olho roto

cria-se esperança-lixo numa imagem de glória personificada, quando não se compreende o movimento dum maxilar partido. a emoção enrola-se a partir do gesto imperceptível que se capta do caos assustado, por isso, quebro a voz para ti:
-espera por mim que a cegueira ainda não se acalmou.

Lx, 05-10-2011

a pares.

sinto um mundo aquoso.
o olhar humano
é tão subitamente
tão fácil.

sinto a fragilidade
do pensar íntimo,
quando o corpo
não esconde a reacção.

sinto a disfunção da palavra
para reflexão do fluído.
tenho compaixão
pelos que sonham sós.

sinto não-solidão
em algo que não existe,
de tão efervescente
se construir.

Lx, fim de Setembro de 2011

20.9.11

100 vírgulas

Palavra arroz
tirada a medida do ar,
dissolução mental
da verbalização grotesca.

Lx, 20-09-2011

13.9.11

observação insensatamente real

pulmão aberto;
vermelhão.
secura miope
com um tornozelo desmanchado.

chávena de azeite,
inventada pelo ardor da madrugada.
conjunção emocional
de orgãos leves.

palavra usada
no desgaste do apetite.
vivacidade tua
para novamente ser

pura
nua
crua.

Lx, 13-09-2011

insónia muscular

Raciocínio;
faz mossa
rola sobre si
sussurra por inquietação,
liberta-se.

Golpe;
acender a luz escura
num outro mundo
teu, sem nunca ser nosso.

Hora-minuto,
indefinição orgânica lunar.
Meia-metade,
só pelo silêncio.

Cinza
que a chuva lambe
sem apagar
o vácuo.

o soalho range irónico
à passagem da delicadeza do papel.

Lx, 13-09-2011

1.9.11

melodia para declamar em voz alta para dentes

nada muda;
apenas sob a luz
duma lâmpada coxa,
torces  o pescoço
deixando à descoberta uma nova face.

mais clara,
e talvez com sorte
mais baixa,
encontrar um pouco,
um pouco mais,
só.

consegues ver?
consegues expiar essa verdade menor?

a sua presença é inegavelmente reflexa.


re-entranhado de dia 26 (08-2011)

21.8.11

ode a Lisboa

Lisboa é uma história branca.
Portugal é uma não-existência cinza.
O Mundo é um mero muro negro.

Lx, 21-08-2011

seres heterónimos

quantos outros Fernandos Pessoa existirão numa só Lisboa? quando detecto numa rua, num subterrâneo, num edifício qualquer, alguém que engana com os olhos, lamento a melancolia que neles consigo respirar.

são eles os que vadiam pela vida suportando os seus sonhos apagados sonhando com outros reinos onde são césares; são os que reparam que o rio adormeceu até mais tarde que o costume; os que observam os olhos-expressão alheios.

são um grupo restrito, duma exclusividade que nem eles desejaram.

eles são os escritores que não sabem escrever mas sentem as palavras inexistentes. são os anónimos amantes da vida expiada pelo poder apodrecido.

são eles os que veêm o mundo gramaticalmente paralelo.


sem data mas de à uns dias atrás, Lx

20.8.11

a matéria do sonho

associa manchas a formas perceptíveis e adivinha nelas cores que são mera imaginação das crianças. afinal o que são as cores senão uma ilusão ocular a que chamamos realidade quando nem a mentira é detectada?

a narração é formada pelas linhas de pensamentos desconexos, outra ilusão da história contada por nós erradamente confusos e iluminados.

duram segundos compactados de convulsões neuronais e espasmos visuais, mas atribui-lhe, o cérebro, uma duração longínqua criada pela sua mentira inconsciente e inocente.

cada som que se desenrola é surdo, não existe, é apenas uma recordação do tímpano que passamos a ver somente.

e no final do dia, quando começamos, de sentidos dormentes, a murmurar o nevoeiro ritmado das sinapses erráticas que reconhecemos e cumprimentamos, lembramo-nos que temos medo. não queremos exprimentar uma outra venenosa dose da nossa própria pureza; algo que não existe mas que nos é todo.

no entanto, o nosso automatismo cerebral apaga-nos estas memórias do que realmente somos, protegendo-nos (talvez?) da nossa essência que nos poderia consumir por tão absolutamente ser.

é lei universal que não podemos saber-nos inteiramente e ainda menos pensarmos com identidade original. Tendo sido a nossa alma que a criou.


Galé, 02-08-2011

30.7.11

visão viciada IX


Nem mesmo nesta noite roxa de laranjas te amei.

29.7.11

papel sagrado

a folha existe branca, vazia para nunca ser ocupada. por ser branca tem potência, tem autoridade. e hoje corrumpi essa sua virgindade feroz como fiz tantas vezes, ignorando esse seu direito de permanecer no seu grande silêncio.

Lx, 24-07-2011 a meio do curso onde as folhas são respeitadas

visão viciada VIII


Na ausência do dito já pensado, a espontaneidade faleceu dura e ressequida. Pouco antes da palavra ser esquecida para sempre, a antiga sensação do agora soltou-se.

28.7.11

visão viciada VII

Liberdade crua e tão alegremente lúcida. Agarra a noite sem tom nem cheiro. Engole cada palavra tua mirada e encarcerada antes de proferida. Apaga cada imagem que borraste na tua visão. Acorda e não te percas. Luta até não existires.

27.7.11

visão viciada VI

Nego em ti tudo aquilo que os teus olhos reflectem, não me querem, não me são. Olhando para a tua casca não sei compreender, se és pele e osso ou mera carne fantasma, os meus olhos não veêm a realidade como antes viram. Nunca me souberam ensinar a repelir a dor da ausência de ser. Sem medos nada pode irrealmente ser. Não posso mais com o ecoar desgastado do teu silêncio que troça de cada sílaba minha. A ti desejo, o enrolar sintáctico da tua lingual ignoro.

26.7.11

visão viciada V

No esplendor da memória o espaço que carrega o teu pavor é por ti invadido, tão despido do mundo e tão cheio do teu.

25.7.11

visão viciada IV

O conceito de espaço torna-se comum, mantendo a sua pureza original que engole com o passar do micro-segundo, os versos dos Homens que ousaram sonhar.

24.7.11

visão viciada III


Podendo caminhar porquê parar, todo o objecto urbano trespassa a fragilidade dos corpos sensivelmente humanos e aquíferos.

23.7.11

visão viciada II


O quão difícil é resistir à mais vil das tentações: o amar. Esse pecado tão pequeno e tão insolente.

22.7.11

visão viciada I


Seres perdidos. Seguir a linha ténue entre o que é determinado e o que é espontâneo. Inconscientes absortos não saberiam balbuciar de onde fugiam com tempo.

luz, ela.

acho que ela é sempre igual a si mesma. não cresce sem se quebrar. através da janela deste sotão semi-habitado, sei que ela apenas trauteia eternamente por ser criança. a Proximidade procura difamá-la. chama-lhe nomes. o pior é anoitecer. ela será sempre inocente. mamã Lua acalma-a antes da sesta, pai Sol está sempre longe. ela faz sempre companhia aos nossos olhos, brincando com as suas cores, porque ela já as aprendeu todas e troca-as conforme a história que lhe conto na nossa leitura matinal.


Lx, em pausa suspensa do trabalho, com janela por cima da cabeça na rua da madalena.

dissecação

seres perdidos. acho que posso vincular-nos a esta definição. criamos tanto para destruir parte de nós sem sequer dar conta. amamos para podermos odiar. pensamos porque a razão não nos é feliz e a emoção nos é familiar. andamos com ou sem pés para evitarmos uma estagnação psicológica. ocupamo-nos para nos distrair da nossa estúpida existência. somos sem às vezes querermos. somos insatisfeitos por condição e por inconsciência.


Lx, 21-07-2011, a armar-me em tosta ao sol enquanto espero que me venham encontrar

20.7.11

relâmpago sob alicerces

(só) hoje poderia passar tempo prolongado, em inocência modesta, sob paredes fragilizadas pelo sistema de felicidade viciado, entre as quais o silêncio fosse mais do que uma questão de dois fios de papel. Aí teria toda a luz vulgar para lascar madeira e absorver as linhas por escrever, que confesso terem sido o meu primeiro amor quando descobri, em criança, que ainda não sabia ler.


agora, após conversa de meia-hora com sr. carlos do subsolo e sr. gabriel do vício do papel em branco.

17.7.11

mãe lisboa

mesmo com o vento rebentado do ventre do movimento recíproco entre homens-objecto, nem um prédio evoluiu. mero silêncio na penumbra do repouso do tempo escuro suspenso por canas de reflexos.
a tentação de acordar a tinta descascada das paredes com pequenos sussurros de poemas concebidos pela alma cansada dos autores perdidos nas ruas da própria cabeça.

imagem-fuga

a poesia é um excerto íntimo do que tínhamos até depois esquecido.

ponto morto

a cegueira seria a única revolucionária nestes tempos em que a evolução se surgiu, tão caótica, meramente primitiva.

Lx, 16-07-2011


os "espasmos" voltaram finalmente.

1.7.11

visão viciada

A luz e a velocidade dançavam à tua volta pelas ruas adentro. As pessoas passam, poucas, absortas na linha ténue que seguiam até seus descansos, provavelmente nem saberiam balbuciar de onde regressavam. Seres perdidos. Mas tu não, tu sabias cada passo que coordenavas e cada buraco na calçada que evitavas. A cor de cada carro que te razava. Embora a tua visão fosse turva, nublada e moribunda, embora tudo o que visses fosse disforme, desmanchado num complexo e familiar puzzle, o teu andar crescia firme e solto.
Rapariga do cabelo fino de óleo, como pairavas pelas ruas duma Lisboa que desconhecias ainda mais do que ao teu interior. Teus pés descalços deixaram de querer distender, deixaram-se fascinar pela maçã pequena e suja que esperava alguém. Ali mesmo no berço duma pedra que já ali dormira para sempre. O quão difícil é resistir à mais vil das tentações: o amar. Esse pecado tão pequeno e tão insolente.
-Podendo caminhar porquê parar, todo o objecto urbano trespassa a fragilidade do corpo sensivelmente humano e aquífero.
As ruas continuam subindo nuas e cruas entre si, mantendo a sua pureza original que engole, com o passar do micro-segundo, os versos dos homens que ousaram sonhar.
No esplendor da magnificência a árvore que carrega o pavor é por ti trepada, tão despida do mundo e tão cheia do teu.
-Nego em ti tudo aquilo que os teus olho reflectem, não me querem, não me são. Olhando para a tua casca não sei compreender. Se és pele e osso ou mera carne fantasma, os meus não veêm a realidade como antes viram. Nunca me souberam ensinar a repelir a dor da ausência de ser.
Sem soprares sem eu assim desejar, sem medos nada pode irrealmente ser.
Não posso mais com o ecoar desgastado do teu silêncio que troça de cada sílaba minha. A ti desejo, o enrolar sintáctico da tua língua ignoro.
Com a mesma violência com que te atiraste para a terra estalada sob a árvore onde sonharas todas as madrugadas o teu mundo ruiu.
Liberdade crua e tão alegremente lúcida. Chora devagarinho e contida que não te é permitido mais.
Deita-te na relva húmida da noite sem tom ou cheiro.
Sorri para ti, engole cada palavra tua mirada e encarcerada antes de proferida. Fecha os olhos e apaga cada imagem que borraste na tua visão.
Acorda e não te percas. Luta até não existires.
-Não existes em mim, não podes ser parte de mim quando eu não sou bem tu, simplesmente não podes. Cada passo que dei foi sem memória tua. Continuo para novamente ser, respiro para voltar. Não preciso de outro quadro que reflicta o que eu repeti da sua repetição contínua baça.
Na ausência do dito já pensado, a espontaneidade faleceu dura e ressequida. Pouco antes da palavra ser esquecida para sempre a antiga sensação do agora soltou-se.
-Nem mesmo nesta noite limpa de laranjas te amei.


01-07-2011, madrugada, Lx, argumento para nova curta

25.6.11

em pausa suspensa

crescendos abruptos de notas que nunca cheguei a identificar diluem-se em tinta surda, dos meus olhos aos meus dedos. as sombras ganham ritmos alucinados dependendo, com receio, da velocidade exteriormente exposta. o ar que pesa sufoca sem adormecer, para pesar meu. cada conceito maduro desfez-se nessas escuras horas, ditas dias, quando agora não sei se isto durou espaço, algum, ou se a insónia é um mero sonho deitado sobre a mesa da cozinha.


hora zero de 24-25 (06-2011) Lx

19.6.11

desenrolar

será o estalo oco que ditará o início de nada. perdido no espaço, esquece o corpo e tudo se expandirá numa implosão retrógada, aqui não conheces quem és. descobrindo que cada fala é errada, tudo é um improviso bera no qual te confundes nos tendões dos dedos. nos segundos surdos cada teu desconhecido representa quem sempre é sem nada não ser numa história de destino fácil. o riso de quem a que te agarras para recordar a carne soa flácido e esmorece em bolhas azedas. tão seco quanto o canto da divisão, vês a rua apinhada de palavras que não se conseguem fazer ouvir e cuja sombra dilata até ser outra onde nasceram as paredes que agora se transformam em matéria abstracta e orgânica, e aí talvez se chegue a concretizar que todo aquele espectáculo decorre com um limite regrado num palco de papel que corta as gengivas dos espectadores.


num decorrer do texto não publicado da hora zero no contexto duma pessoa, Lx, 19-06-2011

15.6.11

sem fracasso, nunca ser.

preferindo contar pelas unhas o que já não soubeste ainda tens receio. já amei esse bastardo que tu agora procuras afastar sem nunca empurrar. digo-te, do fundo dos meus pés desfeitos, que só apenas quando sentires vais ver sem nada saber.


tiro de agorinha mesmo, Lx 15-06-2011

(sabes bem que é para ti)

12.6.11

fios de lã velha

o poder da ansiedade explode no topo da cabeça escorrendo pelo corpo, tornando-se translúcido na sua dúvida e liquidez, desconfiando de talvez alguma flacidez interior. as mãos passam a existir importantemente com uma destreza surreal fazendo vibrar paredes - mesmo quando tendão é aço inflexível. cada batida cardíaca do outro nasce em inflamação muscular que nos consome das unhas à nuca. o olho retoma todas as alvoradas à sua origem meramente surda.


mexendo entre dias 10 e 12 em dias suspensos de pessoas. Lx, casa geta - casa mia.

9.6.11

ponto desconforto

o passado mancha-me a alma.
a sério que gostava de ser pura e nua mas não quero livrar-me da sujidade e das cascas.
não aguentarias e eu não te julgaria.
nem eu consigo.



explosão de à uns minutos atrás. por culpa tua tone. 09-06-2011

8.6.11

the women with red hands

o perder o oxigénio é o compreender o que não entranhou mais na pele. o olhar de desconfiança, a sensação mais nua e alegre que nos preencheu os dentes. o descaramento, mesmo ao lado do corrupto, fez o sangue português tornar-se mais vivo e mais rápido. cada mancha que deixámos para trás no capitalismo, no lar, no abandono, no túnel e na grade ali fica liberta e poderosa moldando o nosso mundo em algo mais impotente e leve. cada gota de espessura e sujidade que deixámos para trás marcou-nos as mãos e a memória criando-nos como as carniceiras das ruas daqui aos subterrâneos.

Lx, ruas vermelhas, 08-06-2011

5.6.11

para a inexistência

será nas madrugadas plenas de respiração suspensa que descansarei, que me libertarei e deitarei sobre o chão imundo sabendo que terei apoio teu. será no maior desassossego urbano que a violência descomunal do transporte me soará a música e me conseguirá por luz nos lábios. sei que poderá ser no toque da pele quente e fria e no sorriso roto que vou saber. e tu vais desconfiar. apenas no silêncio dos momentos de olhos doridos sentado no chão de uma rua qualquer saberás que a palavra é mais do que língua e mãos. a tua alma expandir-se-á em concordância com a batida cardíaca dessa cidade a que chamas tua.

foi um tiro de agora mesmo.

o direito de declamar

ao arrasto dos anos velhos, perdido no coxeio da guerra junqueiro, diz o inebriado: "a ditadura é um facto, a revolução um direito."


merci beaucoup tone, Lx, 04-06-2011

24.5.11

mancha humana

pelas ruas o gato corre. tem a cor das ruas. a cor das vozes e do lixo. é um gato coxo. mas não posso dar certezas porque nunca ninguém o viu. cada pessoa de carne e sangue nunca se lembrou de ver para lá do olho.

agora mesmo numa folha qualquer num quarto qualquer duma Lisboa qualquer

22.5.11

pedra com carne

não quero ser artista plástica. toda a elasticidade das almas perdeu-se. endureceu. limitou muros pessoais. não existe privacidade mas  ninguém partilha verdadeiramente o seu íntimo. não quero ser de lata pois apenas me sujaria mais, me amolgaria e cortaria as histórias do mundo.
quero ser uma artista de vidro. quero guardar os intestinos e o vómito do cruel. quero poder escrever nos olhos dos irreais e distorcer as melodias do peixe.
quero conseguir sentir o violino sem o conhecer.


Lisboa, entre cola e papel, 22-05-2011

processo mecanizado

rasgo a placenta dura e fria. engulo raízes tortas esperando ver, mesmo que seja cega de nascença.
não busco qualquer tipo de protecção. simplesmente não quero ter algo que me cubra as costas quando mas tentam desfazer. quero poder sentir tudo por mim longe de mim. porque a realidade deixou de ser uma máscara transparente e sim uma parede outra onde escrevi ontem o meu fado. mesmo que nunca tenha chegado a nascer.


Lisboa entre linhas e agulhas pela madrugada fora, 22-05-2011

20.5.11

matéria-prima


sou feita de máscaras de cor ou não cor.
encontro-me a meio do que sou,
não chegando a ser mas também não chegando a não ser.

sim, é isto que faço em projecto.

10.5.11

ilimitou-se

o choque. já não sei se quero a carne seca ou a carne viva. posso aproximar-me ou retomar uma veia antiga crescendo e moldando novas formas dentro de tudo. mas já não sei, porque é a palavra, é o som e o movimento do tendão que me puxam até ao fundo. e do fundo do poço consigo ver tanto. mas tanto.

foi agora, pronto.

5.5.11

ai no i

e o Amor passou a ser tabu para mim.

Lx, entre livros e papel no caos arrumado pela Linda, 05-05-2011

4.5.11

peixe cru na tábua molhada

Verdade,
essa doença a que chamam loucura.

data desconhecida
repescado do placard da cozinha. os meus pais andam a apanhar os rascunhos que deixo pela casa.

2.5.11

é só um conselho.

inspira com toda a fé que encontrares.
lunática e descrente.
agora vê lá se não te engasgas.

Lx, 02-05-2011

30.4.11

pó sujo

a carne que deixei apodreceu; ganhou as cores dos meus sonhos. quando a encontrei, pela sua fragância tóxica, lembrei-me que a tinha esquecido no canto da varanda deixando-a à espera do bicho negro. só assim me lembrei que também naquela varanda varrida pela violência primitiva me esqueci dos meus sonhos.

Lx, 30-04-2011

egoísmo fechado em ( )

perdi a força
que suportava aquele silêncio
mostruoso
sólido.
destruiu todas as barreiras
que ergui para mim.
mostrando ao mundo
o batimento cardíaco
que escondi
no baú carcomido
aqui dentro.

era o que de mais secreto
procurei amar só.

Lx, 30-04-2011

rádio a preto e branco

de ser tão negra
aprendi a cor.

com o mais flácido músculo
descobri o pasmo da dança.

para a mais perturbadora violência
recordei o apagar do som.

assim só assim
afogada na terra estalada
reencontrei a mudez que me faltava.


Lx, 30-04-2011

25.4.11

pérolas latinas

"eu sou ateia graças a Deus."

e não vamos mencionar a entidade superior que diz(ia) isto.

23.4.11

nhanhadas

começo a desconfiar que ficar de férias nesta escola me faz um pouco de mal.
o meu caderno ganhou pó.

3.4.11

bifes em sangue

escrever coisas bonitas todos sabemos cuspir.
coisas cruas nem todos querem sentir.



conspiração de perna cruzada numa cama apinhada(de coisas), Lx, 03-04-2011

27.3.11

delírios I

mia sentada na cama olha de repente para o caos instalado à sua frente. mãe repousa na ombreira da porta.
mãe: mia?
mia: sim? (sacode a cabeça e olha para A Mestra)
A Mestra ri.
mia fica confusa: 'que foi?
A Mestra: estavas extremamente concentrada a olhar para o nada.

20.3.11

relógio biológico

Por quantas vezes fiquei a ver a chuva,
sentindo o barulho na pele.
Quantas vezes tropecei e cai
nessas ruas cheias de troça.
E quantas vezes,
ó quantas vezes;
chorei eu no escuro
pelo meu triste verso.


Lx, fim da cama nas altas horas da manhã ainda noite, 20-03-2011

17.3.11

abandono

guardei em mim
demasiadas pessoas,
pouca essência.
deixei a distinção da realidade.
e agora,
tão tristemente,
ouço o assobio inerte
da minha alma a vaguear
no corrimão mudo
dessas ruas ácidas.


Lx, mesa, 17-03-2011

sussurro

A cegueira,
é o mais puro embalo
que o cansado pode ter.


Lx, mesa, 17-03-2011

pena caída

deixei de procurar,
limitei-me às questões.
só o assobio frio
do corrimão
não ouso esquecer.


Lx, mesa, 17-03-2011

carne seca

nunca procurei redenção, nunca procurei voltar atrás.
a dor e o tempo ajudaram-me a esquecer o que é impensável.
tornei-me uma estranha nas minhas próprias vísceras.


Lx, mesa, 17-03-2011

16.3.11

vazio

a solidão, ao sorrir-me aquece-me, afastando a amargura das palavras humanamente cínicas. a melancolia dança e ridiculariza todos os meus sonhos passados e quebrados porém ilude-me no epicentro da minha loucura, bombeia a verdade crua e dura nas minhas veias envenenadas. o esquecimento foge de mim procurando deixar-me na miséria da palavra seca e isenta de razão. só me resta a emoção e nostalgia, mas não choro; agradeço por ficar lúcida na violência do mundo e no meio da crueldade que impus a mim mesma.
mesmo que seja segredo.



Lx, esplanada-não-sei-bem na Guerra Junqueiro, 16-02-2011

sorriso da mais profunda tristeza

"Ó Tempo
Sê gentil
Ajuda este ser cansado
a esquecer o que é triste lembrar
Solta a minha solidão
Sossega o meu espírito
Enquanto devoras a minha carne."


poema de "alguém sensível" a Marilyn Monroe
-ipsilon, 11 março de 2011, pág. 10

o choro é o medo da realidade

a tristeza não é algo de que devamos fugir. é toda a sua lucidez que nos impede de viver os sonhos. os sonhos são falsos. nunca o Homem está bem, ou feliz; a angústia pertence-lhe, divide a alma com o desejo e não deixa que o Homem se perca.
- Angústia, como te podia viver para sempre. Em ti quero ver o mundo velho e degradado. Não quero o muro limpo e a pessoa suja, quero a liberdade de ser sempre triste.



Lx, sala 403 não ouvindo as pessoas, 16-02-2011

14.3.11

pessoa(s) que inspira(m)

"Mas o contraste não me esmaga - liberta-me; e a ironia que há nela é sangue meu."

Livro do Desassossego, Fernando Pessoa, Assírio e Alvim, página 43



e é assim do nada, que me apanham desprevenida; e depois fico com insónias de horas; e depois fui para a aula de Língua Portuguesa com duas horas de sono em cima e indicações incorrectas. bandidos.

13.3.11

rimbombar da violência do som

para mim é magia. a rapidez, o desenlace sonoro dos tendões, a concentração de cada um. é dos sons mais arrebatadores que conheço, é de uma violência brutal que remete meu corpo e minhas memórias para o desentendimento mais profundo. o martelar consciente esmaga as emoções  e arrepia cada vértebra, cada cabelo. tem o poder de me arranhar as ideias e quando acaba sinto saudade desse piano.


ouvindo yann tiersen no chão do quarto, Lx, 13-03-2011

sou surda com os pés

plack plack
cima, baixo
bate, ressoa
o dedo sobe, o dedo desce
uns esperam, outros sofrem
firme e frio
surdo e concentrado
desfocado e turvo
é o plack plack dos dedos do pé.


sítio triste, Lx, 17-02-2011

10.3.11

tisanas visuais II


esse azul negro que te envolve em toda a tua brancura e te queima por dentro.


gota a gota, erro a erro, ano a ano, és sujo e degradado.
ficas sentado na escada à espera que alguém se lembre de ti.

tisanas visuais I

bem, se não tenho tempo ou paciência para escrever por vontade própria, publico aqui alguns textos que escrevo para projecto. melhor que nada?

1. decadência interrompida
o meu conceito envolve-se com o lado mais esquecido do Homem.
o desassossego, essa procura pela verdade pessoal expressa-se apartir do estado mais sujo, mais triste e mais amargo.
a isto, queremos apelidar de memória quando simplesmente faz parte do eu, quando está alojado na alma, quando ainda grita dentro do coração.
e aí existe saudade do que antes eramos.

16.2.11

mais um roubo da aula de Língua Portuguesa

CONSELHO

Sê paciente, espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar do vento que a mereça.


Eugénio de Andrade, Poesia (2005)

12.2.11

retratos de ironia

disseram-me que escrevo bem mas que sou uma torturada depressiva angustiada.
eu cá prefiro só dizer que o meu escritor predilecto é o kafka.

choro compassado

é a fragilidade atropelada, cuspida e descartada.
o olho vazio do pedinte.
o choro da criança cigana.
o desconsolo do jovem que fugiu.
o gato esventrado.
o poio do cão.
a doença da ratazana.
a madrugada do bairro.
o grito ignorado.
o sangue derramado.
é a noite urbana, escondida pelas pessoas que correm pelo tempo que já lhes declarou a sentença.

variações aquosas

minha cabeça é uma dispersão de ruas, esgotos e muros. é o pára e arranca, sem rumo nem sentido. é o gato coxo e o pombo sem asa. tropeço na análise concisa e mergulho na anarquia vocabular. nem as margens respeito.
e agora? júlio de matos?



aula de Língua Portuguesa com múrmurios de Rafael e de ratinhos mimosos tão confusos quanto eu relativamente à Paráfrase Interpretativa. Lx, 09-02-2011

2.2.11

mergulhos subterrâneos

o metro afunda-se nas entranhas de sua mãe. um som guinchante e amargurado ressoa pelos túneis. coisa muito triste, escorrida como o choro do cão vadio. é cru, é duro. perante o espectáculo silencioso afasto os ruídos e o meu Ó. perco os olhos na peça nauseabunda, arrastada pelo tempo.
outro bicho rebenta com esta pauta improvisada.
então o acordeão do cigano fugiu.


plataforma do metro da alameda, Lx. 01-02-2011

24.1.11

não sei o que me inspirou. se a derrota da 'Alegria' se a derrota de mais um dia triste.

Já não sei de sonhos. Tenho mil (eu.s) repartidos. E tão quebrados.
Já não é só o coração que me dói. As mãos tremem. Que cabeça tão pesada.
Encolho-me para mim mesma reduzindo-me à (minha) pequeneza.
Então falham as promessas de certeza.
Então? Diz-me uma incerteza.
São mais de mil num só caco de vidro.




ps: em relação ao título...não quer dizer que votaria realmente nela(e).

20.1.11

coisas parecidas ou iguais? não não.

'' Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava o amor somente.

Tudo passei, mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa (a) que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse que fartasse
este meu duro génio de vinganças!''

RIMAS, Luís de Camões.

11.1.11

zumbido

A música baloiça zonza nos tendões dos meus pés
Ressalta nos meus tímpanos, como chuva moída
E então instala-se na minha memória insolente.

19-09-2010

ai tempos lentos!

‘’Portugal é um país à espera’’
-       Claúdia Luca Chéu

E eu que não gosto de esperar. Paciência.

doenças

  O positivismo é uma doença de carne e sonho. Vive da expectativa do não-literal, do sorriso e da estrada contínua.
  Achas que vives no melhor dos mundos numa ceguez muda.
  Desengana-te.

07-01-2011

9.1.11

espantos ciganos

a mulher grande observa especada. o rafeiro abana o rabo em volta dela.
de rabo-de-cavalo muito liso, muito branco o homem sai e tira um cigarro muito branco. tem uns óculos muito redondos, muito escuros. um bigode farfalhudo mas calmo vibra como os seus dedos tamborilantes. a música toca alta e o carro encontra-se estacionado mesmo no meio da rua sem saída. dobra-se e limpa um faról. abana a cabeça ao som da música tão improvável para tal personagem. o gato preto miou.
o que seríamos nós sem estas extravagâncias?

8.1.11

AMARGURA


   o teu fado é uma alternativa desigual de ti mesmo.
   segues uma estrada de três sentidos que termina no muro que tu próprio ergueste.
   caíste na desilusão de um romântico não assumido, da ponte sem fundações, da borracha suja, dos sentimentos iludidos.
   ficas selado por uma fita vermelha feita da tua extravagância.
   perfuras as nuvens frias e invisíveis numa ceguez muda que não consegues curar.
   adoeces na tua própria loucura, nadando num abismo de memórias a preto e branco.
   ultrapassas a realidade limitando-te então ao vazio.

5.1.11

com a cabeça dentro do prato

-oh! os espinafres são bons na tarte!
sorriso.
-agora tens que fazer poesia com isso.

a Mestra lá sabe.

4.1.11

do esquecimento ao silêncio vão três erros

gostava de pura e simplesmente de esquecer algumas pessoas que se cruzaram comigo. desde alguém que apenas uma vez vi a alguém que lá esteve a maior parte do pouco que já vivi. não aprendi com os grandes erros. só me apercebi deles e da sua raíz. no entanto, não consigo deixar de querer abraçar o mais vago. depois, cortam-me as mãos e tapam-me a boca.
então restrinjo-me aos mais quieto dos silêncios.

3.1.11

careta nojo

é tudo muito bonito, mas espinafres é que não como.
é que nem na sopa nem na salada, tão boa.
é coisa verde demasiado macia.

pilha esquecida

bons-dias

no fundo da chávena

segue os buracos na calçada