21.8.11

seres heterónimos

quantos outros Fernandos Pessoa existirão numa só Lisboa? quando detecto numa rua, num subterrâneo, num edifício qualquer, alguém que engana com os olhos, lamento a melancolia que neles consigo respirar.

são eles os que vadiam pela vida suportando os seus sonhos apagados sonhando com outros reinos onde são césares; são os que reparam que o rio adormeceu até mais tarde que o costume; os que observam os olhos-expressão alheios.

são um grupo restrito, duma exclusividade que nem eles desejaram.

eles são os escritores que não sabem escrever mas sentem as palavras inexistentes. são os anónimos amantes da vida expiada pelo poder apodrecido.

são eles os que veêm o mundo gramaticalmente paralelo.


sem data mas de à uns dias atrás, Lx

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